terça-feira, novembro 06, 2007

Ensaio: O momento em que tudo pára

Está um frio gélido, olhando para a luz das ruas observo a humidade no ar, o orvalho bailando suavemente ao sabor da brisa da frente fria que aos poucos e poucos se instala por cá. Veio para ficar. Mas eu pelo contrário, sinto-me encalorado, como se estivesse enrolado num toalhão turco enquanto faço uma sauna seca, o calor cerca-me, entranha-se-me na pele, deixa a minha respiração pesada. Mas não é desconfortável, bem pelo contrário, é mais uma sensação de aconchego. Sinto um leve toque, um movimento espásmico dos meus músculos abdominais revela uma reacção instintiva a esse acto inesperado... hum... nem por isso, era mesmo aguardado e com considerável entusiasmo. Olhando o vidro da janela, como quem não olha para além desta, encontrei-te. Linda. O teu ar, o olhar, o subir das tuas mãos demoradamente afagando suavemente o meu peito, disse tudo. Virei-me para ti e encontrei a escuridão, uma escuridão repleta de cores, de sensações, arrepiantes, doces e ao mesmo tempo indescritíveis enquanto nos beijávamos. Coloquei as minhas mãos sobre a tua cintura, reagiste de imediato, vindo ao meu encontro, contorceste-te, aproximaste-te do meu ouvido e entre beijos e carícias senti a tua respiração, como se recita-se um poema, um feitiço que me fazia percorrer a tua pele macia, a ferver mas, estranhamente, longe de queimar. O teu perfume transformara-se no teu cheiro, inconfundível e inebriante. Sentia-me enlouquecer, a adrenalina a preencher-me, a responder ao feitiço, controlava os meus movimentos, sincronizados com os teus, como se agora fossemos particulas de humidade que bailam ao sabor da brisa de uma frente quente. Com o intensificar do bailado, tu oscilavas de costas junto a mim, com o teu braço a abraçar-me, a tua mão apoiada na minha nuca, cravava com suavidade os dedos por entre os meus cabelos. Eu percorria incansavelmente o teu corpo, como uma criança perdida numa busca desenfreada por algo que a acalme, sem me deter prolongadamente, retirava o máximo de sensações que a limitação do meu tacto permitia. O mundo lá fora, parado. Nada mais existe. Só este momento, esta explosão dos sentidos que se aproxima, concentra em si todas as energias que os nossos corpos recepcionaram ao longo do dia. Um geiser termal abate-se sobre nós. Os nossos corpos, até então fervorosos, descambam numa tentativa de se arrefecerem e quedam-se pelo conforto da cama. Após um banho reconfortante, ouço a porta de casa fechar. Deitado na direcção da janela, observo novamente a humidade... Arrefeceu entretanto!

3 comentários:

Soler Spot disse...

Cada vez mais este nosso amigo Parrachanderson, leva-me de volta à minha juventude, qd na altura tudo o q podíamos ver/ler eram os mini contos românticos, com uma linguagem gráfica q nos transportava para o meio daqueles momentos tão fugosos.

Continua assim, isso na minha opinião é um dom (entre outros de q és dotado, meu amigo).

Eu continuo por cá à espera do "próximo episódio".

Sempre dá para "sonhar" mais um pouco. ;)

Anónimo disse...

Aos anos q te conheço e n fazia a minima ideia deste teu Dom, cm disse este amigo aqui em cima.

Acho incrivel...

Já pensaste no curso de escrita criativa q eu te falei???

Bejos

P.S.- põe isto num bloquinho de notas, pa mostrares às gajas ;P

Roxanne W. disse...

hum...um beijo...como tudo começa, como tudo acaba, como se queria que começasse, como não queríamos que acabasse...e quando parece que ao beijar nos fazem cócegas bem no fundo da barriga com uma pena...um beijo