segunda-feira, julho 16, 2007

Ensaio: O dia seguinte

Acordo com um berro. Uaaaaauuuu! James Brown canta na minha cabeça, “i feel good” diz ele. E realmente... sinto-me bem disposto, a claridade do sol de meio-dia irrompe pela janela e aquece o meu corpo. O barulho dos carros a passar num frenesim em direcção à praia parece um canto de pássaros a lembrar-me que é Verão.
Fecho os olhos, o chilrear desses pássaros mecânicos vai esmorecendo e lentamente vou sentindo novamente a tua essência, doce mas ao mesmo tempo suficientemente fresca, como uma brisa de verão logo pela manhã. O toque da tua pele vem à flor dos meus sentidos como os salpicos de um cabelo, molhado pelo mar, nas costas de um jovem adormecido ao sol. Relembro a sensação de butterflies in my stomach que senti cada vez que entrelaçavas os meus braços na tua cintura e fazias um maravilhoso swing de ancas comigo.
Recordar as piadas inventadas, as observações um pouco mais mordazes e o arrepiar da pele de cada vez que te aproximavas para me segredar ao ouvido deixa-me com um sorriso parvo, como que a dizer: “Estou feliz, não sei bem porquê, mas estou feliz!”
Queria ter-te beijado, sentir o doce dos teus lábios a acariciar os meus, tomar-te em meus braços e deixar que o calor dentro de mim (nós?!) segurasse as rédeas.Mas isso não aconteceu, ainda que o quisesse e chegasse mesmo a equacionar se também o querias.
Vou-me inteirando então de que provavelmente estive a noite toda no papel de uma personagem de um qualquer filme romântico de Domingo à tarde, filme esse em que não só era o personagem principal como também o argumentista, que num devaneio causado pelo enebriante ambiente se deixou levar na emoção de uma história ficcional mais apelativa que a sua realidade.