segunda-feira, novembro 12, 2007

Resposta ao desafio # 1_v.1.2

Lançando-me nos braços do desconhecido, resolvi aceitar o desafio proposto pela Mik@, que nos foi passado pela Kitty e que o Madeiras ainda fez questão de colocar os restantes membros ao barulho. Ou seja, vou responder a um desafio, ao que parece, proposto por muitas personalidades da comunidade blogoesférica, portanto deve ser algo ponderado levado com extremo interesse e dedicação.

Ao contrário do Madeiras, não vou utilizar afirmações surreais de outrém, pois eu interpreto este desafio como feito directamente à nossa capacidade de sermos surreais em escrita.
Longe de ser um mestre do surrealismo, tentarei dar uma pequena contribuição:

- Eu já passei na IC19 sem ver um único carro

- A série MacGyver não passou de uma enorme campanha publicitária ao Canivete Suiço

- O peixe aranha foi o principal responsável pela queda da ponte de Entre-os-Rios

- Começa a ser engraçado encontrar cada vez mais pessoas que preferem dizer "lol" em vez de se rirem normalmente

- Os filmes de Manoel de Oliveira são repletos de acção estonteante

Bom, agora que vejo bem as minhas afirmações, serão elas assim tão surreais?!

Resposta ao Desafio #1

Olá a todos os ilustres, corajosos e pacientes leitores deste humilde espaço blogosférico.

O post de hoje resulta de um desafio proposto pela gata Kitty, que por sua vez aceitou o desafio da gata Mik@, que por sua vez deve ter aceitado o desafio de outra pessoa, e por aí adiante...O desafio consiste em escrever 5 afirmações surreais.

Feito este preâmbulo, e contrariamente ao habitual, este post não visa satirizar com humor e de forma irónica nenhuma figura pública relevante ou que seja merecedora da nossa atenção...

E perante isto, cá estão as afirmações surreais:

1. "Não é a poluição que ameaça o ambiente, são as impurezas do ar e da água."

2. "Já é tempo de a raça humana entrar no sistema solar."

3. "Já falei com Vicente Fox, o novo presidente do México, para mandar petróleo para os Estados Unidos. Assim não dependeremos do petróleo estrangeiro."

4. "Vocês também têm negros?" (*)

5. "Muitas das nossas importações vêm de fora."

(*) Comentário feito directamente ao presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, a propósito de uma visita oficial ao Brasil em 2002


Aproveito então para colocar o mesmo desafio aos membros do BASA, bem como a todos os nossos leitores que possuem um blog.
Fico à espera do Desafio #2...

quarta-feira, novembro 07, 2007

Ah, este belo Outono...

Aqui vai um pequeno post para desenjoar e secar as lágrimas vertidas...não me levem a mal os acérrimos defensores dos últimos dois episódios da saga ultra-romântica da autoria de Hans Christian Parrachanderson, que promete aquecer ainda mais os corações mais gélidos que por aí deambulam...

E por falar em gélido, aqui estamos nós, em pleno Novembro, a reclamar por não termos tido um Verão de jeito!!! É preciso ter lata!!

Já se vêem em alguns sítios algumas decorações de Natal...já se vêem as loiraças espanpanantes com as raposas mortas ao pescoço...já se anunciam as lotarias de Natal nas ruas da Baixa...até já escurece mais cedo!!
Mas o certo é que ainda se ouve falar de fogos florestais, de temperaturas elevadas para a época e os arautos da desgraça já vaticinam até que haverá seca na próxima Primavera e que o Benfica não será campeão!

E perante tudo isto, meus amigos, a dúvida que se coloca é que castanhas iremos comprar...e a pergunta se impõe é: que pregão irá o homem utilizar? Será um fantástico e inovador...Boas e quentes?!
É que tendo em conta o Verão de S. Martinho que já estamos a viver desde final de Setembro, e a perspectivar-se a aparição do Pai Natal numa fatiota composta por chinelinho de enfiar no dedo, calção às flores e uma camisolinha de alças, acho melhor inverter-se o conteúdo da mensagem e pôr as Boas à frente, como qualquer bom comerciante. Agora se são quentes ou não, tendo em conta o "frio" que se faz sentir, já não é muito relevante...

Venham daí as sardinhas e o manjerico que vou já para Alfama festejar o Santo António!!!
Uuuuhhhhhuuuu!!!

terça-feira, novembro 06, 2007

Ensaio: O momento em que tudo pára

Está um frio gélido, olhando para a luz das ruas observo a humidade no ar, o orvalho bailando suavemente ao sabor da brisa da frente fria que aos poucos e poucos se instala por cá. Veio para ficar. Mas eu pelo contrário, sinto-me encalorado, como se estivesse enrolado num toalhão turco enquanto faço uma sauna seca, o calor cerca-me, entranha-se-me na pele, deixa a minha respiração pesada. Mas não é desconfortável, bem pelo contrário, é mais uma sensação de aconchego. Sinto um leve toque, um movimento espásmico dos meus músculos abdominais revela uma reacção instintiva a esse acto inesperado... hum... nem por isso, era mesmo aguardado e com considerável entusiasmo. Olhando o vidro da janela, como quem não olha para além desta, encontrei-te. Linda. O teu ar, o olhar, o subir das tuas mãos demoradamente afagando suavemente o meu peito, disse tudo. Virei-me para ti e encontrei a escuridão, uma escuridão repleta de cores, de sensações, arrepiantes, doces e ao mesmo tempo indescritíveis enquanto nos beijávamos. Coloquei as minhas mãos sobre a tua cintura, reagiste de imediato, vindo ao meu encontro, contorceste-te, aproximaste-te do meu ouvido e entre beijos e carícias senti a tua respiração, como se recita-se um poema, um feitiço que me fazia percorrer a tua pele macia, a ferver mas, estranhamente, longe de queimar. O teu perfume transformara-se no teu cheiro, inconfundível e inebriante. Sentia-me enlouquecer, a adrenalina a preencher-me, a responder ao feitiço, controlava os meus movimentos, sincronizados com os teus, como se agora fossemos particulas de humidade que bailam ao sabor da brisa de uma frente quente. Com o intensificar do bailado, tu oscilavas de costas junto a mim, com o teu braço a abraçar-me, a tua mão apoiada na minha nuca, cravava com suavidade os dedos por entre os meus cabelos. Eu percorria incansavelmente o teu corpo, como uma criança perdida numa busca desenfreada por algo que a acalme, sem me deter prolongadamente, retirava o máximo de sensações que a limitação do meu tacto permitia. O mundo lá fora, parado. Nada mais existe. Só este momento, esta explosão dos sentidos que se aproxima, concentra em si todas as energias que os nossos corpos recepcionaram ao longo do dia. Um geiser termal abate-se sobre nós. Os nossos corpos, até então fervorosos, descambam numa tentativa de se arrefecerem e quedam-se pelo conforto da cama. Após um banho reconfortante, ouço a porta de casa fechar. Deitado na direcção da janela, observo novamente a humidade... Arrefeceu entretanto!

sexta-feira, novembro 02, 2007

Ensaio: O inevitável

Marcámos para as 13h, como sempre ela pediu-me para ser pontual e eu na minha eterna ingenuidade continuo a sair de casa apenas 30 min antes da hora marcada. Já estou atrasado, atensão arterial aumenta um pouco, os suores frios preenchem-me a testa, os outros condutores parecem congeminar um plano cuidadosamente, quase a uma escala universal, para que eu não consiga amenizar o atraso. Como se isso fosse possível... se já estou atrasado, não há volta a dar!
Finalmente chego a casa dela, corro para a cumprimentar. O seu olhar revela um misto de indiferença e lamento. Não era bem este tipo de olhar que esperava encontrar, mas dentro do que era espectável, também não é bom sinal. Beijamo-nos, sinto um arrepio gélido como se tivesse acabado de trincar um gelado de água, isto é deveras estranho.
Já fazia alguns dias que não nos víamos, eu estava com alguma ansiedade por sentir novamente o calor dos seus lábios, o aperto forte com que costumava presentear-me e as promessas segredadas ao ouvido. Mas algo nela estava diferente. O olhar. O beijo. A sua mão suada e pouco à vontade ao sentir o toque da minha, parecia que se estranhavam, como se a sua pele rejeita-se esse enxerto que eu teimava em lhe colocar por entre os dedos.
Fomos almoçar a um dos seus locais de eleição, eu também gostava, mas não com o mesmo grau de entusiasmo. Começámos a conversar, temas banais de um casal que já se conhece há algum tempo e relata ao seu par as novidades que lhe possam interessar. Foi então que surgiu o "precisava mesmo de falar contigo", num dia normal seria mais uma coisa banal, um problema que necessita-se da atenção mais cuidada do "namorado", mas nada de especial, no entanto hoje o dia não me parecia nada normal.
Sentia-me como que no fundo de um poço, com os ouvidos meio submersos, o som que ela emitia chegava-me abafado, quase ináudivel, não conseguia discernir com exactidão toda a informação que ela me queria passar. Não conseguia... ou não queria. As minhas mão já tinham largado as suas. Porquê?!
O meu olhar deambulava pela sala, observava o prato de um casal à direita, observava um jovem executivo a atravessar a rua ainda com o semáforo vermelho e olhava novamente para as minhas mãos, inquietas, a mexer nos talheres sem qualquer objectivo. Não conseguia suster a perna esquerda, constantemente a subir e descer apoiada apenas nos dedos e na parte dianteira do peito do pé. Porquê?!
Ela esforçava-se por segurar as minhas mãos, por me fazer olhar para ela, para que dissesse alguma coisa. Porquê?!
O nosso pedido chegou, os talheres quebraram o silêncio que subitamente se havia instalado, no entanto o som parecia algo amorfo, como se estivesse enclausurado num frasco fechado sobre o efeito de vácuo. O meu olhar, vidrado, contemplava o prato. Cada pedaço do bife, com o meu molhe preferido, parecia um bocado de serradura seca, sem sabor, ou de sabor desagradável. Porquê?!
Quando acabámos, os nossos olhares voltaram a reencontrar-se, o seu parecia agora um misto de lamento e de suplica, como que a pedir-me "fala! diz qualquer coisa!". Não falei. não sabia o que... Porquê?!
Despedimo-nos como dois conhecidos que haviam esgotado o parco tema de conversa. A viagem de volta a casa pareceu-me nem ter ocorrido, totalmente absorto em pensamentos dou por mim a ver-me ao espelho. Pareço mais velho, stressado e perdido. O meu olhar apenas deixa transparecer uma sensação de vazio. Porquê?!
Porque gosto eu tanto desse teu travo... amargo... a tudo o que me é mortal?!